Tuesday, June 18, 2013

FOTO DO RESTAURANTE "O PELICANO" - BISSAU


Prezados leitores:
Somente para dar a conhecer a imagem de um local em Bissau, palco de grandes e emocionantes recordações de quando mais jovem. Foi ali que iniciei a minha vida de comerciante, se bem que, na ocasião, era somente um empregado de um Hotel concessioário do local que se vê na foto, com varandins envidraçados. Era o restaurante O PELICANO, junto á marginal de Bissau, paralela ao rio Geba. Abri aquilo em Novembro de 1969, como encarregado - tinha eu 24 anos, recem casado. Como poden ver, aquilo era grande, com dois pisos.

Esta foto foi-me enviada pelo meu amigo e camarada de armas (cripto, ao serviço do nosso exército) José Couto, na foto passeando á beira do rio. Vivia fora do quartel no lado de trás do meu 1º restaurante - O NINHO DE SANTA LUZIA, perto do QG. Ali me conheceu em 1972 e, através do Facebbok, revivemos memórias daquele tempo, culminando com o meu previlégio de o ter como um dos oradores principais, no dia do lançamento do meu livro, em Outubro em Lisboa, através da editora do Chiado.

Quantas recordações me traz esta foto?!!! Um turbolinho delas, cada qual com a sua própria emoção, perdida no tempo - dormante, diria eu - mas...mas viva nas profundezas da minha memória. 

Por ali passaram milhares e milhares dos nossos militares, com destino á Guerra na Guiné e, muitos dos que se salvaram, vindos da guerra. O facto era e foi que, o único porto com cais capacitado para receber navios de grande porte, como o Niassa e outros, era mesmo ali em frente, a escaços 100 - 150 metors. Recordo noites de embarque, com grande alarido militar, por toda a cidade de Bissau. Se fosse necessário...prolongava-se o serviço noite fora, para satisfazer "a demanda". Quando assim era, pedia-se autorização especial, devido ao horário de abertura. Por acaso, até recordo que, já com o meu próprio restaurante, o NINHO, acima referido, um dia, já encerrado (encerravamos á 1h00 da
manhã) chega uma "carrrada de militares" (fuzileiros, creio eu) que, vindos de uma operação especial, chegaram ao quartel, onde já não havia comida. Bateram-me á porta (eu estava a fazer a caixa) acenei que estava encerrado mas...perante a insistência, fui falar á porta.

Ali, o comandante disse que necessitava de comida para 120 homens e que ali era o unico sítio de salvação. Respondi que fosse á polícia pedir uma excepção por escrito e, assim foi. Por sorte, ainda tinha alguns empregados a acabar de limpar e recarregar frigoríficos para o dia seguinte. Mobilizei tudo e, foi até ás 5 da manhã. Houve miliatres que comeram 3 doses do que quer que havia. Bifes, frango...sempre com batata frita, já que arroz era "odiado" na tropa. Alguns chamavam-lhe..."arga-massa".

Voltando á foto e ao Pelicano. Em dias de embarque ou dsembarque, na marginal, filas e filas de camiões, civis e militares, carregando ou desarregando milhares de toneladas de material de guerra do mais diverso. Tanto na chegada como no regresso, filas enormes - montões, diria eu - de toda a espécie de fardados - soldados, sargentos, oficiais, a pedir cerveja - 20, 30 sandes de fiambre, queijo, mistas pregos bifanas!!! Não havia mãos a medir. Era um negócio incrível. Quando encomendava "papo-secos", nestas ocasiões, eram 2000 - 3000! O que acontecia era que, muitos dos soldados ficavam nos camiões e 2 ou 3, é que iam a comprar para um determinado grupo.

Contando já com esta demanda, antecipadamente, faziam-se cerca de 300 sandes de cada tipo, (fiambre, queijo, mistas, carne assada, presunto etc.) , tudo prontinho para avançar. Cerveja?...Caixas e caixas de toda a espécie! 50-60 -70 caixas, grandes e média. Coca-colas, fanta, enfim...um sem fim de productos!!!

O problema era controlar as saídas. Na parte de baixo, tudo tinha que passar por mim, para saber que não "fugia" nada e, mesmo assim, não acredito que tal não sucedesse. Na parte de cima, tinha um familiar, que tentava fazer o seu melhor. Mas, devido á configuração do local, a concentração maior era na parte de baixo. Tenho saudades!!! Quem me dera lá voltar, quanto mais não fosse para reviver estas inesquecíveis memórias!!!

Ali, no Pelicano, era o "assinar do ponto" quase obrigatório para todos os militares que, por sorte, dsembarcassem no cais principal, tendo oportunidade de visitar a cidade de Bissau. Infekizmente, muitos, não tinham a mesma sorte porque, quantos e quantos saíam directamente em lanchas da marinha, para o destino que lhes foi "forçado". Coitados, muitos deles, chegaram e regressaram, sem nunca terem visitado a capital do território para o qual na defesa do mesmo, (ou da política do governo de então) tanto padeceram. Já nas lanchas, seguiam por ali abaixo, quantas vezes sendo "batizados" com fogo vindo das margens do rio. Por vezes, da margem direita e, outras da margem esquerda. Especialmente na área de Tite. Recordo bem que, no outra lado da margem, mas mais londe, em Bissau, se ouviam os estrondos quase diários, a partir de uma determinada hora da noite. Enfim, os que stavam por ali nas redondezas, saberão melhor que eu. .  

Mas, para aqueles que tinham a sorte de dsembarcar e atravessar a cidade de Bissau, pois, na 1ª oportunidade, tentaria ir "ressecar-se com cerveja, devido ao calor unusual, constante naquelas paragens. Os outros, quantas vezes somente com 3 meses de recruta e (seria?) um treino militar, lá vinham os "coitados" sem saber para onde iam e, pior de tudo, sem saber se iriam regressar. Assim foi!!!

Muitos... nem o regresso fizeram.

Visitar a cidade, seria um luxo. Só algum mais graduado ou, então, que tivesse tido a sorte (?) de ser evacuado para o o hospital militar.

Constava-se até que...alguns, comiam bananas, em jejum, juntamente com cerveja, receita ideal para se apanhar uma hipatite, segundo constava. Então, se apanhassem hipatite, tinham direito a ser evacuado. Se apanhassem outra doeça, já não seria assim tão fácil.

Seria verdade? Eu não posso confirmar porque nunca me passou nada disso, excepto 10 anos seguidos ter apanahdo (ou ele é que me apanhou a mim?) "o paladismo". Depois dos 10 anos consecutivos, fiquei imune. Segundo dizem...e o facto é que, depois dos 10 anos, não voltei a apanhar o paladismo. Estive lá cerca de 15 anos.

Voltando aos nossos miliatares, quando chegavam, notava-se a ansiedade e incerteza do desconhecido que os esperava. E, de regresso, ao solo "pátrio", notava-se um semblante "espavorecido"" de preocupação, de calo, de alívio por, por fim, estarem a salvo. Notava-se sobretudo uma revolta "interior" por terem que passar pelo que passaram, numa guerra injusta e sem sentido algum.

Aquilo... era uma loucura.

Como já disse noutras ocasiões, eu tive sorte porque fiquei sempre em Bissau. - 1º, a cargo da messe de Sargentos e. 2º, a cargo da messe de oficiais da Força Aérea. Não na base aérea 12, onde existiam também as duas "messes" mas... simplesmente, na cidade de Bissau, sendo a última (messe de oficiais) mesmo ao lado do palácio do Governador.

Que belos tempos eu ali passei!!! 
Repetia a dose, se me dessem a juventude e a oportunidade!!!

O certo foi que, muitos dos nossos..."chegar a Bissau, ou á Guiné, lá isso chegaram! Mas, partir de regresso (?) ao solo "Pátrio" nem todos o fizeram".

PELO MENOS PELOS SEUS PRÓPRIOS PÉS...PORQUE, 
MUITOS, REGRESSARAM "ENCAIXOTADOS" DEVIDO Á "UTUPIA MIOPE", DOS POLÍTICOS DE ENTÃO QUE, TAL COMO OS DE AGORA, NÃO QUERAM SABER DOS ZÉS-NINGUÉM"  do Zé-povinho. 

Agradeço sinceramente o envio desta foto.

Muita saúde amigo Couto.




2 comments:

  1. Que saudades eu tenho daquele "Ninho de camarão", que vinha numa pequena caçarola de barro,a ferver e bastante picante Mesmo com aquele calor infernal em Bissau e aquele picante no ninho a ferver, eu não resistia. Era lá que ía sempre comer o "meu" ninho - pois era especialidade da casa -, quando chegava a Bissau, vindo de Tite.
    Passados tantos anos, nunca consegui descobria a receita, nem mesmo na internet.
    Também inesquecíveis eram aquelas noites na esplanada do Pelicano, virada para o rio,geralmente cheia, onde se conversava, bebia cerveja, sob aquela temperatura morna do ar nas noites de Bissau. Inesquecível!

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