Prezados leitores:
No seguimento da leitura das simpáticas referências feitas pelo distinto "camarada de armas" Mário Beja Santos, sobre o conteúdo geral do meu 1º livro - "PALAVRAS DE UM DEFUNTO ANTES DE O SER", ilustrado na imagem mais abaixo - permitam-se fazer algumas observações sobre alguns pontos referidos que, sem desliustrarem o conteúdo básico do referênciado, a verdade é que, não são completamente factuais.
Deste modo, com os meus mais sinceros agradecimentos ao “camarada”Beja Santos, pelas amáveis palavras expressas no texto mais abaixo, sinceramente acredito que é minha obrigação tentar corrigir algum “lapso” interpretativo dos factos descritos, embora de modo algum desilustrando o “caroço” do tema onde acaso esse lapso interpretativo possa existir.
E, por uma questão de simplificar o que pretendo fazer, começo por referências “localmente”, marcando numéricamente, para apresentar a correcção em rodapé de modo a que os leitores fiquem mais esclarecidos sobre a realidade.
Recomendo aos leitores que, ao depararem com uma numeração (1-2- etc.ª) marcada a vermelho e entre parentes, que avancem para o rodapé referente ao número em questão, para se “manterem-se” dentro dos factos.
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Segue texto na
integra, excepto com a numeração referida entre parentes.
RELATO DE
BEJA SANTOS
“MEMÓRIA DO
PATRÃO DE MOMO TURÉ”! (1)
Por:
Beja Santos
“Palavras de um
defunto… antes de o ser!”, por Mário Tito, Chiado Editora, 2012, é uma extensa digressão da
memória de um camponês que prestou serviço na Base Aérea 12 (Bissalanca, Guiné)
(2) durante
o serviço militar, aqui ficou como encarregado (3)
de restaurante, proprietário, trabalhador na Embaixada dos EUA em Bissau e
depois imigrante nos EUA. É um discurso fluido mesmo que propositadamente saia
da linha principal e proceda a circunlóquios, parte do simples e arrasta as
frases em novelo, confrontando o leitor com vários assuntos e rematando
conclusões cujos dados nem sempre estão consignados nas premissas. Usa as
exclamativas com generosidade, pouco preocupado com o fio da meada, somos
atraídos até Alcaide, nas faldas da Gardunha, convocados para descrições de uma
pobreza brutal, há mesmo fotografias com meninos de pé descalço (4), há fotografias de reuniões familiares, há
muitos irmãos, está prestes a assentar praça mas a memória salta,
indisciplinada, para recordações daquela Guiné-Bissau de grandes carências,
logo a seguir à independência, trabalhava a mulher (5)
como cozinheira-governanta na residência do embaixador norte-americano e
ele fazia o que podia para manter um restaurante de pé, não resistiam a andar
sempre com uma garrafinha de azeite e pacotes de açúcar, (6) o hábito faz o monge e podia-se chegar a um
local onde havia peixe mas podia faltar azeite ou até um dente de alho.
Pois bem, este Mário Tito que viveu 14 anos e meio na
Guiné, que trabalhou no Grande Hotel, que esteve como encarregado em O
Pelicano, que teve A Tabanca e o Ninho de Santa Luzia a seu cargo, iniciou o
seu périplo no RI 7, bateu à porta dos paraquedistas, que foi enviado para a BA
3, acabou na messe de Bissalanca. (7) As
suas lembranças voltam ao terrunho, ele não esconde o muito orgulho pelas
origens e fala do esforço da sua mãe para que não faltasse o essencial, o pão
de trigo, dois ou três pratos de sopa feita com feijão-frade e couve lombarda
acompanhada por uma virada de pão (8) de
centeio e explica-nos que era uma ementa estudada para a sobrevivência, aquele
pãozinho ia amolecendo dentro da sopa, uma pasta dentro do líquido, assim se
enganava a fome. O Mário Tito não esconde a sua febre de escrever como se fosse
arrastado pelo devaneio em que o discurso mistura vários passados e algum
presente, pois que aquela infância gerou imensa solidariedade mas ele jamais
esqueceu as atribulações de uma mesa onde tudo faltava mas o que havia era
repartido. Um exemplo: “Nós comíamos o fígado cerca das 10 da manhã. À nossa
conta éramos nove o ano todo (9) , meus pais
e meus irmãos e muitas vezes ainda repartíamos por duas famílias da vizinhança,
com 3 filhos, duas raparigas e um filho cada, pelo facto que estas famílias
também repartiam connosco quando vendessem qualquer porco ou cabra ou chibo”.
Parece que o Mário Tito não foi muito feliz em
Bissalanca. (10) Ele promete dedicar um livro
intitulado “Bissaulónia” a toda a sua vivência, anda por Bissalanca como por
vinha vindimada, chegámos agora ao restaurante O Pelicano e resolve fazer
algumas considerações sobre o que escreve Oleg Ignatiev acerca de Momo ou
Mamadu Turé no livro “Três tiros da PIDE”. Momo vivia com estreita ligação com Mário
Tito. Um dia, Momo deu uma festa em sua casa e a seguir desapareceu. Mário Tito
tinha feito a sua comissão nos anos de 1967 e 1968, arranjou logo trabalho em
Bissau, no Grande Hotel. (11) Quando O Pelicano abriu, em 14 de
Novembro de 1969, Mário Tito levou consigo alguns elementos do Grande Hotel,
entre eles o Momo. Chama mentiroso a Oleg Ignatiev quando este refere três dias
depois de Momo sair da prisão do Tarrafal apareceu um novo chefe de sala em O
Pelicano. Ora, alega (12) Mário Tito, nessa
altura nem O Pelicano sequer existia, Momo foi trabalhar para o Grande Hotel. A
verdade é que a seguir ao desaparecimento de Momo vieram os agentes da DGS a O
Pelicano, tirar nabos da púcara, tão discretamente como vivia tão discretamente
Momo partiu para a clandestinidade. Lembra-se perfeitamente que Momo conversava
em O Pelicano com Rafael Barbosa que aqui vinha beber a sua bebida predilecta,
a Laranjina C. E discorre sobre as razões do assassinato de Amílcar Cabral,
ouviu mesmo agentes da DGS em Bissau que garantiam que não interessava às
autoridades da Guiné que Cabral desaparecesse, era o único interlocutor com
inteligência suficiente para a passagem do testemunho.
As suas lembranças de Bissau incluem um Rafael Barbosa
que também frequentava o Ninho de Santa Luzia, este antigo presidente do PAIGC
virá ser acusado de colaborador pelo PAIGC e de bombista pela DGS. Sucede que
nunca houve provas suficientemente incriminatórias, Barbosa viu a sua sentença
de morte comutada em prisão, é talvez a seguir a Amílcar Cabral o maior
mistério da luta pela independência. As recordações de Mário Tito oscilam entre
a messe de oficiais da Força Aérea, em Bissalanca, (14) decide não regressar a
Portugal, arranja um emprego no restaurante Solmar, no ano seguinte casou e
trouxe a mulher para a Guiné.
É brejeiro, tem mesmo um arranjo muito próprio do
“Piriquito vai para o mato”, alega que todos os arranjos são possíveis muito
mais quando o autor é desconhecido. Como é tudo pouco comum neste discurso,
agora sim, temo-lo em Bissalanca, há recordações dos passeios na península de
Bissau, sai da Guiné e vai correr mundo. É um homem feliz com os amores,
sente-se compensado por toda a iniciativa que demonstrou ter na restauração na
Guiné, antes e depois da independência. Sente-se consolado por ter uma vida bem
vivida, não esquece a aspereza de Alcaide, ter sido marçano em Lisboa, ter
feito a Força Aérea onde teve uma comissão cheia de sorte, não conheceu
dificuldades, afeiçoou-se à Guiné, serviu à mesa gente que ganhou notoriedade,
num lado e no outro, fez o que pôde para trabalhar na Guiné, até ao impossível.
E quer voltar a escrever, diz que tem muito a revelar sobre o quotidiano de
Bissau depois da independência. Acha que se inventou um Momo Turé chefe de
conspiração, acha tudo isso um puro delírio. E avisa-nos solenemente que a
Bissaulónia vai deixar muita gente de boca à banda. Cá ficamos à espera.”
FIM DO TEXTO DO CAMARADA BEJA SANTOS.
Mais uma vez, muito obrigado camarada Mário Beja
Santos.
Seguem as correcções que entendo fazer, para uma
melhor interpretação da leitura deste inesperado texto, descritivo do meu
livro.
1) – Neste ponto,
permitam-me que, eu não era patrão de
Momo Turé. Eu e ele, além de bons amigos, eramos colegas de trabalho, tanto
no Grande Hotel onde o encontrei depois de regressar á Guiné com minha mulher.
Ali trabalhamos todos juntos. Eu era chefe de sala, no sector da comida, e MOMO
era chefe de sala, no sector de vinhos. E, pelas excelentes qualidades
demonstradas poe este grande Guineense, eu cobicei-o para que me acompanhasse como
meu “braço direito” na abertura do novo restaurante O Pelicano, pertença do
Grande Hotel. Assim foi, com abertura do mesmo a 14 de Novembro de 1969.
2) Se bem que
estivesse ligado á BA 12, só lá dormi uma noite porque, no outro dia, fui
destacado para a Messe de Sargentos e, posteriormente, para a Messe de
Oficiais, ambas localizadas na cidade de Bissau, a 12 Km. + - de
Bissalanca.
cervejaria Solmar. Mais tarde, fui para o grande Hotel, tendo posteriormente
aberto O Pelicano, aí sim como encarregado.
4) Os miúdos na
foto de pé descalço, somos…eu, um irmão e uma irmã. Assim era a vida de então.
5) Sim, a minha
mulher foi para cozinheira do embaixador americano, embora não logo, logo a
seguir á independência.
6) Este ponto, foi
motivado pela carência de tudo e mais alguma coisa, poucos meses depois da
independência, ao ponto que decidi encerrar o restaurante e, após entrar para a
embaixada dos EUA, onde minha mulher já estava, passamos a ser clientes de
outras casas do mesmo ramo. Daí a referência á “garrafinha” e ao açúcar.
7) Já referi no nº
2, como foi.
8) A virada do
pão, era para ser usada como colher, porque a miséria assim ditava que fosse.
Não havia colheres para todos nós e, os mais pequenos, tinham que se contentar
com isso. Obviamente, com o molhar a virada na sopa, ia-se comendo a virada
também, e, deste modo, aconchegava-se mais o estômago.
9)
Ao todos eramos 9.10) Não diria que não fui feliz.
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